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Fiz esse blog com incentivo de um amigo meu das letras. A princípio era mais uma brincadeira de escrever, mas aos poucos fui tomando gosto, e hoje não consigo passar um dia sem "por os pés" aqui. Agradeço sinceramente os caros leitores que passarem por aqui. Fiquem à vontade para comentar, sugerir ou acompanhar esse democrático e rabugento espaço (como queiram).

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domingo, 26 de abril de 2009

DESTINO A MEIO FIO


Caminhava cabisbaixo como se fosse um vício. Durante meses observei essa atitude (não que eu quisesse me envolver, me meter na vida alheia, mas era o meu caminho o dele, oras!), um jeito meio arredio para um garoto de sua idade. Quando me olhou por baixo das pálpebras, a primeira vez, a impressão que tive foi de um menino sisudo, cílios negros a proteger um par de olhos grandes castanho-mel, delineados por uma sombra de dúvida que eu duvidava um dia descobrir o mistério. A idade tem lá suas descobertas...mas não foi naquele dia, ainda ( se quer saber o leitor).

Descia a rua a passos lentos olhando o chão como de costume, como a ler o destino dormente, pisado, dividido, por entre as linhas imprensadas dos paralelepípedos, quando de repente teve um ímpeto: subiu no meio fio do lado esquerdo da rua, e poe-se a caminhar, talvez a dançar, não sei. Acho que nem notou a minha presença que passara do outro lado a bisbilhotar os seus passos, o seu trajeto, o seu passado (seu pensamento?). Os pés trocavam de lugar num sincronismo e equilíbrio absoluto de quem domina a arte num palco para poucos. E eu tive o privilégio de assistir, ali mesmo no palco de pedras. Sumiu na primeira esquina da rua, do lado esquerdo. E foi assim durante meses.

Engraçado, como às vezes, a gente nota grandes coisas em pequenas coincidências. Fosse eu bancar a curiosa e segui-lo até àquela casa (confesso que vontade não faltou) teria perdido o prazer da descoberta e a aventura que esta me proporcionou.

Era domingo, chovia. Um daqueles dias frios de junho. As folhas dançavam ao som do vento e da garoa fina. Coloquei o pulôver, um casaco preto pouco acima dos joelhos, um jeans básico por dentro das botas, as luvas, a touca e um cachecol de lã completaram o meu visual anti-frio. Apesar do tempo, estava pronta pra o que desse e viesse. Mas como sempre, cinéfila que sou, tinha planejado ver no cinema, a estréia de "E o vento levou". Subi no ônibus, rumo ao destino que me reservava uma experiência única, porém dividida com ele. Da janela o vento no rosto e nos cabelos vi passar carros, gentes, paisagens, casas que me espiavam numa velocidade rápida dos meus 15 anos, menina-moça encantada pelos risos, brincadeiras... promessas de sua idade, mas principalmente pela dança. Ele foi o primeiro e único que eu conheci, que arrebatou parte de mim. Nunca mais os vi.

Dei por mim quando já estava no último quarteirão da Avenida Manoel Bandeira (ah, meu Santo Onírico!), duas paradas após. Desci xingando o cobrador e o motorista por não me avisarem, já que sabiam onde eu costumava descer naqueles dias. Seu Nino pediu desculpas, mas com um ar de pouco caso (já éramos velhos conhecidos) acelerou a máquina e partiu. Voltei caminhando pelo lado direito da rua, pulando aqui e ali, livrando-me das poças d'água que se acumularam com a forte chuva do dia anterior. Enquanto fazia esse trajeto de cabeça baixa, atenta para não encharcar as botas lembrei seus passos alternados pelo meio fio e subi (dizem que a vida imita a arte). E foi assim que nos deparamos. Parados, desta vez, tentei reviver o meu passado naquele par de olhos grandes castanho-mel e adivinhar o segredo. Mas ele puxou-me pelo braço e levou-me até aquele prédio, no primeiro andar. Subimos escadarias, passamos por corredores de piso de madeira lustroso. Conduziu-me até uma sala à meia luz e desapareceu. E ali de pé, fiquei por quase meia hora, parecia uma vida: trinta anos de minha existência. Senti o coração pular quando um refletor azul-celeste parou bem em sua frente, não tive dúvida, era ele, olhos iguais: castanho-mel. O som da silente "Lago dos Cisnes", e as cortinas se abrindo para o meu menino dançar fizeram mergulhar no passado, dessa vez de olhos bem abertos. Seus quinze anos o tornara esbelto, tronco firme e membros bem torneados. Aplaudimos sua bela atuação, agora no palco. Apresentou-me seu pai que veio pela primeira vez assistir o ensaio, depois de vários meses de insistência e resignação. Sofrera muito até tomar a decisão. Ele o criara sob forte regime autoritário e não aprovava a sua opção. Por isso, saía de casa escondido naquela hora; todos os dias para ensaiar naquela mesma casa; na primeira esquina da rua do lado esquerdo. Coisas de meio fio umbilical!




sábado, 25 de abril de 2009

A FOGO E FRIO


Primeiro o grito de desilusão
Na noite gelada
O frio na pele
Depois a expressão petrificada
Cala por um instante o eco
Só fagulhas de um fogo consumidor
De feridas íngremes na garganta
Arranha o sentimento que nasceu

Sabe que não arrebatará
Que não subirá uma palavra
Fincou raízes em seu coração
Ramificou o verbo amar
Mas não frutificou.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

PARADOXO

Le girl



Vi pela fresta da alma

(teu olhar)

Desconexas formas.

Paradoxo de um amor que rindo,

chora.

A alma do poeta! (Selma, 2007)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Eurico, o Presbítero (Alexandre Herculano)

Apresentarei aqui, um pequeno resumo de uma humilde análise literária que fiz na época da graduação, sobre o romance Eurico, o Presbítero do escritor português Alexandre Herculano. Mas não pensem os leitores que faço isso com a propriedade de um crítico literário (não tenho formação acadêmica suficiente para tal, assumo), mas sou curiosa e gosto da coisa. Pois bem, vamos a ele.

A análise em questão joga luz sobre a personagem
Eurico, enquanto poeta, sacerdote e herói. E por esse viés desenvolvem-se temáticas de ordem social, político, romântico e religioso.

A personagem
poeta é o homem que divaga em meditações sobre a morte, a guerra, a solidão e o amor, compondo hinos de derramamento espiritual. O sacerdócio é a missão que abraçara não por vocação, mas por força de um amor não correspondido e que o faz abdicar dos prazeres materiais da mocidade e de homem guerreiro, indo refugiar-se nos braços da Providência. O Cavaleiro Negro faz de Eurico, o herói. Suas convicções religiosas não o impediram de sacrificar o celibato em prol de causas que julgava nobres: a moral, o caráter e o amor à pátria.

Em Eurico, o Presbítero, Alexandre Herculano aborda com muita propriedade as relações sociais que se estabelecem no momento histórico vigente (Portugal de 1844) e o momento que retrata o início do século XVIII, bem como a invasão da Península pelos árabes, em 711. Portanto, História e Arte se mesclam na obra de forma cronológica/metodológica: ao passo que a ficção pinta um quadro remoto do mundo medieval, o sentimento romântico aflora nos momentos de tragédia, heroísmo e tensão espiritual.

Segundo Maria Beatriz Silva (1977), "Sempre que iniciamos a leitura das obras de um historiador, devemos fazê-lo com um espírito crítico que nos ajude a destrinçar a parte objetiva da parte subjetiva do seu trabalho". Sobre esse aspecto, verifica-se, em Eurico, o Presbítero, a fusão do homem de pensamento e o copilador de materiais, graças a inserção do autor à estética romântica. E sob uma visão medievalizante, o autor vai conferir um enfoque histórico a sua obra, explicando o que conta hoje em função do passado.

Angélica Soares (1989), recomenda uma análise de tendência formalista e conteudística, ou seja, pensamento/discurso. Este, está sempre no presente, àquele (a diegese), no passado. A evasão temporal, na narrativa, está implícita logo nos primeiros capítulos, com o enfoque nas batalhas nas quais Eurico tomou parte, os primeiros momentos dos godos na Península Ibérica e a alusão à expulsão dos árabes. Na obra em questão, poucas vezes, o diálogo aparece porque o narrador heterodiegético traça um plano (interior e exterior) para ser observado. O seu olhar busca integrar esses elementos aos temas morais, políticos, religiosos, sociais e históricos. É o que ver-se na personagem Eurico, um misto de poeta, sacerdote e herói, no qual o escritor problematiza todas esses questões.

Obra de caráter híbrido (os gêneros se mesclam na narrativa), mas numa sequenciação de ações. Até nos momentos em que o narrador "empresta a voz" a Eurico e a Teodomiro, por meio das cartas, ocorre a chamada
focalização esteroscópica, típica nos romances epistolares, como em Dostoievski.

Nos primeiros capítulos do romance, percebe-se o tom poético nas palavras que brotam do coração ferido do poeta. São expressões líricas lamentando a sua infelicidade amorosa:
"Hermengarda, Hermengarda, eu amava-te muito! Adorava-te muito! Adorava-te só no santuário do meu coração..." Derramamento em tom lírico mergulhado no interior da convivência com a solidão e saudade da amada. Ainda em suas vigílias noturnas, compunha hinos de alento à alma cantados nas dioceses, e que, mais tarde, viriam a ser descobertos em sua autoria, o que o fez mais respeitado em sua aldeia de Cartéia e adjacências. "Sabeis o que é esse despertar do poeta? É o ter entrado na existência com um coração que transborda de amor sincero e puro..." Nota-se nas palavras do poeta, um sentimento contido e diminuto frente às descrições de paisagens e dos conflitos políticos e militares que se apresentam ao longo da narrativa. De acordo com Massaud Moisés (2004), "O escritor deixava transparecer uma excessiva vigilância da inteligência ou o sufocamento provocado pela erudição histórica". Em outras palavras, a História sobrepõem-se à imaginação.

Eurico, enquanto sacerdote, esteve com o coração e o espírito voltados para a missão que abraçara, no intuito de curar-se de um amor impossível. O sacerdócio fizera-o renascer e perceber o amor, a virtude e os sentimentos sublimes que há no homem transformado pelo evangelho. Contudo, o espírito guerreiro e as aspirações poéticas continuam vivas. Em seu "retiro" interior de poeta e espírito cristão, recorda: "
...e a minha alma via passar diante de si esta geração vaidosa e má, que se crê grande e forte, porque sem horror derrama em lutas civis o sangue de seus irmãos". E profetiza: "Virá um dia a esta nobre terra de Espanha gerações que compreendem as palavras do presbítero".

Esse tom profético é uma espécie de prenúncio, de visão das catástrofes que virão: ".
..ao aproximar-se os dos dois exércitos de nuvens prolongaram-se em frente um do outro e toparam em cheio. Era uma verdadeira batalha". Portanto, o Presbítero empresta à narrativa, um cristianismo de sentimentos e visões, mas que não perde a racionalidade. Ranços de raízes neoclássicas de Herculano.

O
herói, Cavaleiro Negro, é uma espécie de retrato do semideus, acima do humano, "...um misto de guerreiro e santo" (MOISÉS, 2004). Os seus feitos heróicos assemelham-se aos heróis de Homero e às novelas de cavalaria. Guerreiros valentes, seres lendários. Eurico, portanto, movido pelo amor à pátria, não suporta ver a força moral e material da nação se esvair: cavaleiros esmagados aos pés dos que guerreavam. A destruição social abre-lhe novamente a ferida que julgava cicatrizada. E movido por esses acontecimentos violentos e um ideal grandioso, ele emerge como um vulcão na batalha de Crissus; no episódio da abadessa do mosteiro; no rapto de Hermengarda e no desfecho da narrativa. Feitos heróicos que remetem à Idade Média, à época visigótica, à luta com árabes, à decadência de impérios. Temáticas recorrentes, bem ao gosto dos românticos.

À guisa da conclusão, não será incorreto afirmar que, estamos diante de um romance histórico, não exatamente, nos moltes de Scott, como o autor bem admite, talvez pela dificuldade, pelo difícil acesso a informações precisas sobre determinados fatos históricos. Daí a introdução na narrativa da poesia lírica - como também as digressões, os apartes filosófico, doutrinário e político - conferir à obra um certo caráter subjetivo. Mas que Alexandre Herculano não abriu mão, ao narrar os acontecimentos, o máximo de descrição histórica. Essa metodologia, utilizada pelo historiador, romântico e liberal, ainda hoje é tida como fonte segura para o estudo de determinadas épocas da História de Portugal.

domingo, 19 de abril de 2009

OBTUSO


Pelos ângulos sombrios dessa cerne

Tateando, percorro cada canto.

Com esmero de criança adulta

Planto flores de vidro e sonhos.

Mas se um tango caliente convidar-me a dançar

Sairei ao teu encontro

Explorando transparências

Vidros estilhaçam

Flores acordam

Sonhos aguçam a imaginação

E um olhar noturno penetra a carne

A retina faz-se aguda e ilumina

O interior obscuro desse ser

De medidas exatas traçadas

Longilíneas retas no compasso da dança

Nos passos milimétricos

Que roçam as pernas

E o rubor na face outrora abandonada

Desperta a flor de carnencarnada

E o busto decerto alteia-se em fogo

Dos olhares geométricos

Nas bocas nuas desenhadas

Desvirginadas, disfarçadas de sonhos.

sábado, 18 de abril de 2009

CAPRICHO: revista feminina para adolescentes


Existe uma ditadura de padrão de comportamento para as mulheres desde a adolescência? Que ideologia está por trás das revistas femininas destinadas ao público adolescente? O que pretendo abordar aqui é a dimensão das representações sociais do feminino, e, para tanto, focalizarei o discurso ideológico da Revista Capricho, analisando os gêneros textuais que figuram na revista, as propagandas veiculadas, o nivel do público para o qual se destina, dentre outros aspectos, enfim, analisar o tratamento que a revista dá a mulher adolescente.

Não é preciso ir muito longe para perceber, ouvir e ver, um padrão de comportamento imposto à mulher. São músicas, filmes, veiculação publicitária, programas de TV, uma infinidade de chamadas com o intuito de convencer e ditar regras de comportamento. Desfilam nas páginas dessa revista, cosméticos, roupas, dietas especiais, dicas de sexo, relacionamentos (ficadas), até dicas sobre o melhor cirurgião plástico para adolescentes. Uma fase perigosa, em que a menina, geralmente, está em conflito necessitando afirmar sua identidade.

Segundo Vieira, autora do artigo científico MULHERES LEITORAS: para quem se compõem as capas de revistas?, nas revistas femininas a construção ideológica sobre a mulher, enquanto consumidora é feita de forma contínua a partir da divulgação de comportamentos consumistas, e que vão alterando assim, a visão de mundo das mulheres. Vão sendo assimilados comportamentos "legitimados" por um grupo social de pessoas bem sucedidas financeira e emocionalmente. Para a autora, na chamada de capa da revista é possível perceber o discurso ideológico: "A nova solteira independente, poderosa e de bem com a vida". Ora, adotando um caráter crítico conclui-se que, essa mulher solteira só estará "de bem com a vida", consumindo determinados produtos, sendo escrava de um padrão de beleza estabelecido pela mídia, dona de um corpo perfeito e assumindo um comportamento liberal em relação ao sexo. A revista afasta a imagem de mulher "solteirona" de forma estratégica e mascarada para vender uma imagem de mulher perfeita e realizada em todos os aspectos. Portanto, viável a qualquer uma delas.

Conforme Landowski (apud Silva), a informação divulgada pela mídia, não pode ser vista como realidade social, pois ela é um recorte, uma interpretação de determinada situação. Silva, em seu artigo científico A informação televisiva entre a realidade e a ficção, esclarece que, se a informação é linguagem, não pode ser a transparência da realidade. A mídia constrói uma realidade e seleciona o que mais causará impacto no telespectador. Da mesma forma podemos aplicar tais informações a mídia escrita, mais propriamente às revistas femininas, com o intuito de convencer esse público alvo a se espelhar nessa "realidade". No caso da Revista Capricho, esta, irá transmitir padrões de comportamento para as adolescentes, apostando num mundo imaginário de sonhos, fama, glamour, facilidades e independência.

Analisando a edição da Capricho para adolescentes de janeiro de 2004, podemos ler em sua chamada de capa: 500 MENINOS REVELAM O TIPO IDEAL DE GAROTA (ESCOVA É TUDO, VIU?). Com esta chamada, a revista começa a criar uma realidade utópica, que não é a realidade social de um modo geral. Ora, 500 meninos não são os meninos do Brasil todo! Mas o que a revista dita, é que as meninas precisam (caso não queiram ficar "sobrando") manter os cabelos escovados para agradá-los, ou seja, se tornam escravas da moda para conseguir êxito em suas vidas amorosas.

Ainda na capa, ler-se numa das chamadas secundárias: CARENTE, CIUMENTA, FRIA...TESTE SE VOCÊ TEM PROBLEMAS COM OS MENINOS. Esse é outro exemplo de enquadramento de comportamento da menina adolescente. Na matéria há um lembrete para quem vai fazer o teste: "Lembre-se: este teste é uma brincadeira". Mas, provavelmente, as meninas leitoras não darão importância ao aviso e farão o "teste", como se ele desse o diagnóstico preciso para os seus problemas.

Tento descobrir o que mais atrai esse público teen, e adentro as páginas da revista. Traço então, o seguinte perfil:

1- Público alvo: adolescentes do sexo feminino.
2- Nível social: classe média alta e, em menor número, classe média baixa.
3- Escolaridade: estudantes secundaristas.
4- Área de interesse: relacionamentos emocionais, sexo, moda, comportamento, pessoas famosas.
5- Gêneros textuais: tirinha (textos que não instigam à reflexão); entrevista (perguntas fúteis sobre a vida pessoal do ator Paulinho Vilhena, tipo: "Com quem você tá ficando?") ; propaganda (muito apelativa); cruzadinhas, horóscopo (a previsão é sempre que a menina vai ser bem sucedida no amor); testes (para saber se você está agindo "corretamente" em relação as "ficadas").
6: Linguagem: gírias, linguagem informal. Exemplo: "Aí, você sai para a balada?"; "A festa tá bombando, o lugar tá lotado"; "Mas não demorou e veio o vacilo". Na empolgação: "A parada agora era uma dessas megalojas da Siciliano: cd's do Metálica".
7- Propagandas veiculadas: o foco são produtos de beleza, produtos escolares, de praia, roupas e acessórios.

Portanto, chego a conclusão que todo esse "tratamento" é um estímulo ao consumo de um padrão de comportamento que vai desde roupas e cabelos até atitudes. E mais, a revista Capricho é uma espécie de versão adolescente da Revista Nova (ambas da Editora Abril), que de certa forma está "preparando" a leitora adolescente para ler esta, mais tarde. Essas revistas não estão interessadas em falar sobre questões sociais, políticas ou literárias, pelo contrário, contribuem para a rotulação desse público como sendo fútil, consumista, doméstico e alienado. Regidos pelo "horóscopo" televisivo, e por meio de personagens que podem tudo. O discurso da revista é persuasivo porque instaura um mundo de ilusão, impondo caminhos e atitudes que visam o consumo, é óbvio, e reforça uma visão pejorativa sobre a mulher, circunscrevendo-a em duas instâncias: 1. no mundo doméstico com produtos para serem usados em casa enquanto mãe e esposa; 2. incita à adolescente a um mundo liberal e consumista, no qual ela acaba por se tornar escrava da beleza, de um comportamento sexual imposto, de sentimentos exacerbados e assuntos fúteis. Em suma, uma mulher fora de sua realidade, terreno fértil, reservado à praticidade e racionalidade do homem.