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Fiz esse blog com incentivo de um amigo meu das letras. A princípio era mais uma brincadeira de escrever, mas aos poucos fui tomando gosto, e hoje não consigo passar um dia sem "por os pés" aqui. Agradeço sinceramente os caros leitores que passarem por aqui. Fiquem à vontade para comentar, sugerir ou acompanhar esse democrático e rabugento espaço (como queiram).

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sábado, 18 de abril de 2009

CAPRICHO: revista feminina para adolescentes


Existe uma ditadura de padrão de comportamento para as mulheres desde a adolescência? Que ideologia está por trás das revistas femininas destinadas ao público adolescente? O que pretendo abordar aqui é a dimensão das representações sociais do feminino, e, para tanto, focalizarei o discurso ideológico da Revista Capricho, analisando os gêneros textuais que figuram na revista, as propagandas veiculadas, o nivel do público para o qual se destina, dentre outros aspectos, enfim, analisar o tratamento que a revista dá a mulher adolescente.

Não é preciso ir muito longe para perceber, ouvir e ver, um padrão de comportamento imposto à mulher. São músicas, filmes, veiculação publicitária, programas de TV, uma infinidade de chamadas com o intuito de convencer e ditar regras de comportamento. Desfilam nas páginas dessa revista, cosméticos, roupas, dietas especiais, dicas de sexo, relacionamentos (ficadas), até dicas sobre o melhor cirurgião plástico para adolescentes. Uma fase perigosa, em que a menina, geralmente, está em conflito necessitando afirmar sua identidade.

Segundo Vieira, autora do artigo científico MULHERES LEITORAS: para quem se compõem as capas de revistas?, nas revistas femininas a construção ideológica sobre a mulher, enquanto consumidora é feita de forma contínua a partir da divulgação de comportamentos consumistas, e que vão alterando assim, a visão de mundo das mulheres. Vão sendo assimilados comportamentos "legitimados" por um grupo social de pessoas bem sucedidas financeira e emocionalmente. Para a autora, na chamada de capa da revista é possível perceber o discurso ideológico: "A nova solteira independente, poderosa e de bem com a vida". Ora, adotando um caráter crítico conclui-se que, essa mulher solteira só estará "de bem com a vida", consumindo determinados produtos, sendo escrava de um padrão de beleza estabelecido pela mídia, dona de um corpo perfeito e assumindo um comportamento liberal em relação ao sexo. A revista afasta a imagem de mulher "solteirona" de forma estratégica e mascarada para vender uma imagem de mulher perfeita e realizada em todos os aspectos. Portanto, viável a qualquer uma delas.

Conforme Landowski (apud Silva), a informação divulgada pela mídia, não pode ser vista como realidade social, pois ela é um recorte, uma interpretação de determinada situação. Silva, em seu artigo científico A informação televisiva entre a realidade e a ficção, esclarece que, se a informação é linguagem, não pode ser a transparência da realidade. A mídia constrói uma realidade e seleciona o que mais causará impacto no telespectador. Da mesma forma podemos aplicar tais informações a mídia escrita, mais propriamente às revistas femininas, com o intuito de convencer esse público alvo a se espelhar nessa "realidade". No caso da Revista Capricho, esta, irá transmitir padrões de comportamento para as adolescentes, apostando num mundo imaginário de sonhos, fama, glamour, facilidades e independência.

Analisando a edição da Capricho para adolescentes de janeiro de 2004, podemos ler em sua chamada de capa: 500 MENINOS REVELAM O TIPO IDEAL DE GAROTA (ESCOVA É TUDO, VIU?). Com esta chamada, a revista começa a criar uma realidade utópica, que não é a realidade social de um modo geral. Ora, 500 meninos não são os meninos do Brasil todo! Mas o que a revista dita, é que as meninas precisam (caso não queiram ficar "sobrando") manter os cabelos escovados para agradá-los, ou seja, se tornam escravas da moda para conseguir êxito em suas vidas amorosas.

Ainda na capa, ler-se numa das chamadas secundárias: CARENTE, CIUMENTA, FRIA...TESTE SE VOCÊ TEM PROBLEMAS COM OS MENINOS. Esse é outro exemplo de enquadramento de comportamento da menina adolescente. Na matéria há um lembrete para quem vai fazer o teste: "Lembre-se: este teste é uma brincadeira". Mas, provavelmente, as meninas leitoras não darão importância ao aviso e farão o "teste", como se ele desse o diagnóstico preciso para os seus problemas.

Tento descobrir o que mais atrai esse público teen, e adentro as páginas da revista. Traço então, o seguinte perfil:

1- Público alvo: adolescentes do sexo feminino.
2- Nível social: classe média alta e, em menor número, classe média baixa.
3- Escolaridade: estudantes secundaristas.
4- Área de interesse: relacionamentos emocionais, sexo, moda, comportamento, pessoas famosas.
5- Gêneros textuais: tirinha (textos que não instigam à reflexão); entrevista (perguntas fúteis sobre a vida pessoal do ator Paulinho Vilhena, tipo: "Com quem você tá ficando?") ; propaganda (muito apelativa); cruzadinhas, horóscopo (a previsão é sempre que a menina vai ser bem sucedida no amor); testes (para saber se você está agindo "corretamente" em relação as "ficadas").
6: Linguagem: gírias, linguagem informal. Exemplo: "Aí, você sai para a balada?"; "A festa tá bombando, o lugar tá lotado"; "Mas não demorou e veio o vacilo". Na empolgação: "A parada agora era uma dessas megalojas da Siciliano: cd's do Metálica".
7- Propagandas veiculadas: o foco são produtos de beleza, produtos escolares, de praia, roupas e acessórios.

Portanto, chego a conclusão que todo esse "tratamento" é um estímulo ao consumo de um padrão de comportamento que vai desde roupas e cabelos até atitudes. E mais, a revista Capricho é uma espécie de versão adolescente da Revista Nova (ambas da Editora Abril), que de certa forma está "preparando" a leitora adolescente para ler esta, mais tarde. Essas revistas não estão interessadas em falar sobre questões sociais, políticas ou literárias, pelo contrário, contribuem para a rotulação desse público como sendo fútil, consumista, doméstico e alienado. Regidos pelo "horóscopo" televisivo, e por meio de personagens que podem tudo. O discurso da revista é persuasivo porque instaura um mundo de ilusão, impondo caminhos e atitudes que visam o consumo, é óbvio, e reforça uma visão pejorativa sobre a mulher, circunscrevendo-a em duas instâncias: 1. no mundo doméstico com produtos para serem usados em casa enquanto mãe e esposa; 2. incita à adolescente a um mundo liberal e consumista, no qual ela acaba por se tornar escrava da beleza, de um comportamento sexual imposto, de sentimentos exacerbados e assuntos fúteis. Em suma, uma mulher fora de sua realidade, terreno fértil, reservado à praticidade e racionalidade do homem.







3 comentários:

Alisson da Hora disse...

Pois é...e isso vem de longe, desde a Eevista das Moças,das décadas de 50 e 60, e os folhetins do século XIX. Tudo para alienar e adestrar...

beijo

Adilson Jardim disse...

Põe o "O Sorriso da Monalisa" em sala de aula, Céu. Assiste antes, pra ver o que você acha.

PS: parabéns pela matéria.

PEDEPOESIA disse...

Verdade, senhor da Hora. E as mocinhas ficavam embevecidas.

Valeu a dica, Lobo!!