SEJAM BEM VINDOS!!

Fiz esse blog com incentivo de um amigo meu das letras. A princípio era mais uma brincadeira de escrever, mas aos poucos fui tomando gosto, e hoje não consigo passar um dia sem "por os pés" aqui. Agradeço sinceramente os caros leitores que passarem por aqui. Fiquem à vontade para comentar, sugerir ou acompanhar esse democrático e rabugento espaço (como queiram).

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domingo, 31 de maio de 2009

ESTADO DE ÁGUA




Meus poemas estão jogados ao mar


Encontro-me em estado de água


Escoam sorrateiramente por entre os dedos


Cavam fendas em pedras marinhas


Escondem-se em total silêncio azul marinho.


Mas não desisto


O duelo está travado


Eu e a palavra


Composição em estado de água.

sábado, 30 de maio de 2009

TEMPO DO VERBO

Ponte de ferro - Recife


Ontem
O silêncio estrondoso da madrugada inútil Acordou o íntimo velado pelas sombras mortas E ecoou no beco de uma rua sem saída Acalentou o cão vadio de noites vorazes Hoje O silêncio das palavras atormenta Porque as sombras se fazem muro no caminho Obstruem sua passagem Nem o grito agudo quebra a escuridão das palavras-vidro Amanhã O vento (quem sabe) romperá a barreira do silêncio Da rocha brotará palavras-água E voltaremos todos seguindo à sua sombra Pelas pontes e becos da cidade-luz.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

LIVRO OU COMPUTADOR?


Com o avanço da tecnologia digital, o advento da internet e outros recursos sofisticados na Era da Informática, foi-se o tempo em que o aluno se debruçava sobre os cadernos e os livros, não para fazê-los de travesseiros como fazem alguns estudantes em salas de aula, hoje em dia (vai ver eles acham que o contato direto do livro com a cabeça seja a maneira mais fácil de ativar os neurônios), mas para extrair conhecimentos ou beber na leitura deleite.


Isso que eu questiono em reuniões pedagógicas junto aos meus colegas de profissão e os mais recentes contratados do Governo Estadual, os chamados "Técnicos em Educação" (eita nomenclatura desgraçada! Parece que o cara vai lidar com engrenagens daquelas do filme de Charles Chaplin), agora vejo que está tomando dimensões maiores (ainda bem!). Está preocupando alguns professores, pedagogos, literatos, enfim...Mas apesar da preocupação de alguns, por outro lado, vejo discursos inflamados de professores defendendo com unhas e dentes a leitura virtual e a escrita digital em detrimento do livro de papel. É pura apologia inconsequente.

Vi esta semana, não lembro o dia, uma reportagem na TV Bandeirantes que abordava o assunto. Muito pertinente. A matéria mostrou e ouviu as duas faces da moeda: a professora e uma especialista em psicopedagogia. A primeira, ministrando uma aula totalmente informatizada para crianças da rede particular (de 4 a 5 anos), que estavam em fase de alfabetização, calma...esclareço: o primeiro contato delas com a escrita e a leitura se dava via leptop. Todos possuiam um. Ao ser indagada a respeito desse contato primeiro da criança com as teclas e a tela, ao invés dos livros, responde que não ver problema nenhum, que o acesso a tecnologia digital tem que começar desde cedo, embora não descarte o livro, "estamos vivendo em um mundo globalizado", conclui. A segunda, esclarece que é perigoso essa inversão de saberes, porque nessa etapa cognitiva a criança está em fase de apreensão e acomodação de conhecimentos. Portanto, faz-se necessário o contato direto com a escrita a lápis (não a mouse), garantindo assim, as fases que vão dos rabiscos até a alfabética, como também uma escrita sem cortes, subtrações, acréscimos ou isso que os linguistas chamam de metaplasmos. Mas isso é assunto pra outra postagem. Não quero colocar minha carroça na frente dos bois, enfim...Não precisa ser um expert em Emília Ferreiro, Jean Piaget, nem Vygotsky para perceber credibilidade nos argumentos da pedagoga, que são pertinentes e perfeitamente compreensíveis. E pra fechar a matéria, a repórter perguntou para as crianças se elas preferiam as aulas com o livro ou o leptop, imaginem os leitores o que elas responderam...(aiiiiii....meus ouvidos doem até agora com a resposta delas).

Espero que os formadores de opinião, especificamente os ligados à Educação nesse país, tenham a consciência de incentivar os educandos à leitura e a escrita no papel, antes de tudo. Não estou aqui descartando o acesso dos alfabetizandos à literatura virtual, mas que esta não seja prioridade no processo ensino-aprendizagem. Porque do contrário, e num futuro bem próximo, teremos uma sociedade só falando e escrevendo a linguagem "internetês". E tome reforma ortográfica!!





quarta-feira, 27 de maio de 2009

SEM PALAVRAS...










Hoje estou sem inspiração (sem saco mesmo) para escrever. Bateu à porta uma melancolia horaciana, uma sensação bucólica sem precedentes. Mas deixa estar...


Enquanto as
PALAVRAS não voltam, fico com a beleza dessas outras palavras/imagens que falam por mim:






































domingo, 24 de maio de 2009

A LÍNGUA SEM PUDORES


A língua que penetra os espaços virgens

Maculando a brancura do verbo

Irrigando sulcos

Levando sementes ao espaço estéril

Fertilizando a terra fechada

Penetrará também os recantos

Noturnos, sombrios, secos

E deixará fluir um rio em seu ventre

Rio de palavras quentes

Nuas em seus afluentes

Corpus úmido em curso

Jorrará sua linguagem

No mar íntimo do papel.


Faz amor beijando a verve

Uma dama sem pudores

Procurada, não será encontrada em casa

Porque no espelho d’água

Refletiu a outra imagem

Estava fria e cansada

De ser dicionarizada.

JOÃO CABRAL: “Poesia me excita muito”


"Após o banho", William A. Bouguereau, séc. XIX


A LINGUAGEM SENSORIAL PODE SER ERÓTICA


Apesar da rica fortuna crítica que existe sobre a poética do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto, e dos estudos sobre o rigor formal em sua obra, pouco se falou sobre a temática erótica que o poeta insere no livro “Quaderna”, uma linguagem lírico-erótica-velada. Principalmente no poema “Paisagem pelo telefone” (leia aqui o poema completo).


Os órgãos dos sentidos quando tocados com desejo provocam a libido. Aparentemente não seria esse o caso no poema “Paisagem pelo telefone”, porque não há indícios de contato físico, há um distanciamento de corpos (o contato é por telefone), mas também há uma espécie de ritual erótico, de strip-tease nas imagens comparativas (sempre que no telefone/ me falavas, eu diria (...) e até mais, quando falavas/ no telefone eu diria/ que estavas de toda nua,). O termo sempre, implica um ato constante ou que aconteceu mais de uma vez. Portanto, nas entrelinhas desse verso, lê-se a possibilidade de um contato mais íntimo, tal é a ênfase que o poeta dá ao estado de nudez da mulher.


Essa percepção está na idéia de luz, que se faz presente através da voz. Essa voz, é que faz o poema ser todo de luz, refletido em suas poderosas metáforas: cristais, brancas, límpidas, salinas, água, claras. Todas remetem ao corpo, a pele dela que, coberta com uma roupa mínima de banho, já provoca os sentidos do poeta e mais quando despida: só de teu banho vestida, /que é quando tu estás mais clara/ pois a água nada embacia. O termo mais indica intensidade. Por isso que quanto mais a água escorre pelo corpo, mais clara e exposta se torna a nudez: a água clara não te acende: / libera a luz que já tinhas. A água que sacia a sede fisiológica também comunica com extrema sensibilidade.


Pelas sinestesias comprovar-se-á então, que o sentido do ouvir: tua voz me parecia (...), desperta e desencadeiam outros sentidos que incendeia a intimidade, visão: toda de luz invadida (...) / libera a luz que já tinhas; tato: fresca e clara, como se/ telefonasses despida. A descrição que o poeta faz da mulher, explora todo o campo sensorial, culminando num envolvimento quase tátil do eu poético com o seu objeto de desejo, a mulher. É como se ambos estivessem envolvidos corporalmente, num momento íntimo de prazer.


Não seria hiper interpretação uma possível comparação desse recorte, com um serviço de rede telefônica - que surgiu mais precisamente na década de 90 – o qual disponibiliza mulheres de vozes sensualíssimas a “venderem” orgasmo pelo telefone. É pura e simplesmente a voz que estimula, desperta a imaginação e a volúpia de quem está do outro lado da linha, conduzindo-o ao clímax. Muitas vezes pela masturbação. O poeta pantaneiro Manoel de Barros foi explícito ao descrever no poema “Pêssego”, a sensação indescritível que a voz provoca: Proust/ Só de ouvir a voz de Albertine entrava em/ orgasmo (...).


Ora, o leitor mais atento à poética de João Cabral, e conhecendo a sua técnica discursiva (embora o poeta não tenha feito menção a essa possibilidade de leitura em sua poesia), concordaria que tal comparação é possível, sim, mas com uma ressalva: o que sobressai na poética de JCMN é o erótico velado, numa perspectiva da “realidade visual ou visualizável”. O que Ezra Pound (apud Athayde), denominou de fanopéia.

Mesmo na linguagem erótica, o poeta continua atento ao rigor formal. E não despreza o teor afetivo no trabalhar dessa técnica. Sobre essa obsessão ele explica em entrevista:

Poesia me excita muito (...). Poesia é linguagem afetiva, e assim é que tudo pode ser tratado poeticamente. (...) A poesia não é linguagem racional, mas linguagem afetiva. Dirige-se à inteligência, sim, mas através da sensibilidade (ATHAÍDE, 1998, p.71,73).

Portanto, vê-se que a sensibilidade na poética de JCMN não é um jorro de palavras “concebidas” do inconsciente, mas uma poética sensorial construída a partir de elementos racionais.