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Fiz esse blog com incentivo de um amigo meu das letras. A princípio era mais uma brincadeira de escrever, mas aos poucos fui tomando gosto, e hoje não consigo passar um dia sem "por os pés" aqui. Agradeço sinceramente os caros leitores que passarem por aqui. Fiquem à vontade para comentar, sugerir ou acompanhar esse democrático e rabugento espaço (como queiram).

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terça-feira, 8 de setembro de 2009

LITERATURA COMPARADA

Manoel de Barros



A ESSÊNCIA DA PALAVRA EM FERNANDO PESSOA (ALBERTO CAEIRO) E MANOEL DE BARROS


Ao longo da história da literatura, muito tem se especulado a respeito da imagem poética, entre o sujeito – escritor e o objeto no mundo real, como parte da essência da arte.


A busca pela essência da palavra em O guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro, é intencionalmente concebível, por incitar a consciência do leitor a um mundo de completudes. Em sua imanência, a palavra tem caráter vivo, presença material no mundo empírico , e como tal, estabelece uma relação de significado com o indicativo metafórico, ou seja, a imagem poética.


Esse fenômeno implícito no inconsciente, é que dá sentido ao objeto, possibilitando o leitor estabelecer um conceito carregado de significado, de forma sensível e transcendental. Por meio da imagem poética, a palavra ganha vida.


O ser poético reproduz o mundo empírico desfigurando-o, abre caminho onde não há caminho, não importa a etimologia da palavra, constitui-se arbitrariamente. Como tão bem se expressou Manoel de Barros ao ser indagado sobre a matéria da poesia: “Todas as palavras. Lata, pedra, rosa, sapato, nuvem – podem ser matéria de poesia. Só que as palavras assim em estado de dicionário, não trazem a poesia ou a anti-poesia nelas inerentes. O envolvimento emocional do poeta com essas palavras e o tratamento artístico que lhes consiga dar, - isso que poderá fazer delas matéria de poesia. Ou não fazer.” (BARROS, 1966). Mais adiante, em Gramática Expositiva do Chão, ele cita Spitzer concordando que todo desvio nas normas da linguagem produz poesia.

É o sentido imanente da palavra que escamoteia e abre caminhos, irrompendo o seu curso natural:


Teve a semente que atravessar panos podres, criames/ de insetos

couros, gravetos, pedras, ossarias de peixes./ cacos de vidro, etc

antes de irromper...(BARROS, 1998.p. 11)


Percebemos a relação de identidade que há no excerto acima , no qual a imagem poética é fator primordial para apreensão da dicotomia coisa / palavra. È um descobrimento, um surgir , uma semente que brota num canteiro de palavras “virgens” num fabrico de semântica. Daí a razão da palavra sobreviver em Manoel de Barros e Fernando Pessoa , como o barro que na mão do oleiro vai sendo moldado a seu gosto, até ganhar forma .


Certa vez em entrevista a José Otávio Guizzo, MB é indagado se acredita na falência das palavras como forma de expressão, ao qual responde: “Enquanto o mundo parir uns tipos hipobúlicos feito, por exemplo, Fernando Pessoa, resguardados pela timidez e incapazes de uma ação – as palavras não morrerão. Essas criaturas não têm outra forma de ação senão em cima das palavras. Obsessiva e sadicamente as trabalha, dobrando-as até seus pés, arrastando-as no caco de vidro, até que elas sejam eles mesmos”. Ambos buscam nas coisas mais corriqueiras do mundo empírico, matéria para a sua poesia. Isenta de rebuscamentos , a palavra torna realidade por meio da imagem poética, o objeto em sua essência, estimulando a sensação e a percepção do estar no mundo e se apropriar de sua aparição, mesmo sendo para o leitor mais exigente, desconcertantes ou desconcertadas.


Segundo MASSAUD MOISÉS (1966), os princípios do Sensacionismo, em Alberto Caeiro, consistem no seguinte: 1. Todo objeto é uma sensação nossa. 2. Toda a arte é a conversão duma sensação em objeto. 3. Portanto, toda a arte é uma conversão duma sensação numa outra sensação. A fusão do real e o irreal, entre o concreto e o abstrato, assinalam a intersecção de dois planos constituídos de sensações mescladas:


O que nós vemos das cousas são as cousas.

Por que veríamos nós uma cousa se houvesse

Outra?

Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos

Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,

Saber ver sem estar a pensar,

Saber ver quando se vê

Nem vê quando se pensa (CAEIRO, 1992, p. 217).


Consideremos os verbos “ver” e “ouvir” no poema acima, concebendo lugar de destaque sob viés psicológico – naturalista, ou seja a ânsia do poeta de abolir o “pensar” e limitar-se simplesmente a ver e ouvir: concepção realista das coisas, do objeto e seu significado:


Deste modo ou daquele modo

Conforme calha ou não calha,

Podendo às vezes dizer o que penso,

E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,

Vou escrevendo os meus versos sem querer,

Como se escrever não fosse uma coisa feita de

Gestos,

Como se escrever fosse uma coisa que me

Acontecesse

Como dar-me o sol de fora.


O excerto acima, constitui o texto XLVI de O Guardador de Rebanhos. O início do poema transporta o leitor a indagação: de que se trata? A pluralidade do termo “como” introduz nele essa pergunta. Mas o quinto verso responde: a própria ação de escrever.

No quinto verso, lemos: “Vou escrevendo os meus versos sem querer”, Caeiro não usa o termo poema, prefere falar de versos. Porque para este conjectural poeta, a unidade de sentido está no verso ou no agrupamento de versos e não no poema. Nessa realidade, destrói-se o que seria entidade poema como unidade semântica e estrutural.


O próprio ato de escrever denota um “à vontade”. Percebemos isso no final do quinto verso: “sem querer”, ou seja, o que fora temporalidade e duração ressurgem agora como realidade de um episódio como indicação. Contudo ao dizer “querendo”, Alberto Caeiro, naturalmente vem contrariar o sem “querer” da primeira estrofe, explicitando um ato involuntário, exteriorizado. Porém já vimos que esse fenômeno inicial fora posto em questão nas estrofes posteriores. De qualquer forma, nesse caso, não se deve ler o uso do verbo “querer” em dois pólos diferentes do texto como uma contradição.Admite-se sim, coerência no texto caeiriano, uma vez que sabe-se o paradoxo é a forma mais privilegiada de Fernando Pessoa.


PS: O texto está incompleto. Quando tiver outra folguinha volto para dar continuação.

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